sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Antes mal acompanhado do que só!

 
Tudo o que é demais sobra – já dizia, sempre sabiamente, a minha avó. Não que eu ache legal começar a falar desse tema citando a minha avó, mas é que, convenientemente, essa citação parida pela sabedoria popular se encaixa perfeitamente no que eu quero dizer.

E eu não quero dizer, também, que alguns poucos exageros não são perdoáveis, como comer chocolates freneticamente durante três dias seguidos quando se está de TPM. O que não vale é abdicar da qualidade só pra desfrutar de uma enxurrada de excessos que, depois de algum tempo, tornam-se monótonos e inúteis. Eu explico: comer chocolate é bom,
pelo menos para a maioria dos seres humanos com bom paladar. A primeira barra é maravilhosa: produção de endorfina a todo vapor. A segunda já não te faz salivar enquanto abre a embalagem. Na terceira, você nem sente mais o gosto – é automático, você está comendo chocolate pura e simplesmente porque você sabe que isso é bom, mas não está necessariamente sentindo prazer.
 
Mas, não – esse post não é sobre chocolate. É que a mesma situação é percebida, quase sempre, nos relacionamentos. Pessoas se arrastam em relações enfadonhas só pelo prazer das bodas de ouro. Colecionam rosas secas recebidas no início do namoro, e um terrível sentimento de vazio na alma – vazio de emoção, de rosas novas e de sexo bom.
 
Não importa se o seu namoro de cinco anos não acelera mais o seu coração, ele é melhor do que a solidão, afinal. E assim você segue vivendo, movido pela preguiça de mergulhar no mundo e descobrir a beleza de se apaixonar de novo. É confortável assim. Quando você abre os olhos, se passaram cinquenta anos e você já carrega algumas dezenas de rugas e um sentimento de vazio que não dá mais pra corrigir.
 
Não parece muito, mas isso provém da síndrome do exagero também: querem borboletas no estômago, mas optaram pelo exagero da intimidade que só traz o vazio – que, curiosamente, nasceu do excesso. Querem orgasmos múltiplos, mas transam todo santo dia – de preferência com o mesmo parceiro. Querem novidades pra contar, mas não fecham a matraca um segundo sequer – e as novidades se perdem nas palavras atropeladas.
 
Eu também seria muito feliz se não fosse assim, mas o excesso só traz problemas, e o exagero só gera a falta. É preciso deixar alguma novidade a ser contada, algum ponto erógeno a ser descoberto, algum mistério a ser desvendado, algum silêncio a ser quebrado – o ser humano é movido pela descoberta, e quantidade e intensidade, definitivamente, não casam.
 
Assim como o chocolate perde o gosto quando se come demais e o barzinho perde a graça quando você vai lá todo sábado, o exagero destrói até os relacionamentos mais tesônicos. Mas, calma lá – vocês não precisam se encontrar quinzenalmente. Dá pra manter – com muito jogo de cintura – um relacionamento estável e emocionante, desde que você respeite o espaço do outro e o seu também.
 
Busque o prazer recíproco – não transe só pra dizer que transa todos os dias. Não fale se a sua vontade for o silêncio. Não conte todos os seus segredos, não gaste todas as suas risadas e não aposte todas as suas fichas – Assim, todo encontro vai ser divertido e toda transa vai ser um tesão: o prazer na medida certa de duas pessoas que se descobrem e descobrem um pouco do mundo a cada dia.
 
 
 
 
 
Fonte: Nathalie Macedo, CasalSemVergonha

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