quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Qual o nível de carinho recebido pelas pessoas?


Pesquisa nacional aponta nível de carinho recebido pelas pessoas   Tadeu Vilani/Agencia RBS

Pesquisa do Ibope com 2 mil brasileiros de diferentes classes, gêneros e localidades constatou que a frieza gaúcha fica por conta dos termômetros. Em matéria de calor humano, o clima no Rio Grande do Sul é mais quente do que a média nacional. É que de todos os brasileiros que disseram ter recebido muito carinho ao longo da vida, 35% são gaúchos. A Região Sul é a que tem o maior percentual de moradores que afirmaram dar muito carinho, com 45%, frente a 43% da população brasileira e 41% dos nordestinos.


Apesar do balanço aparentemente positivo para os gaúchos, no geral, a troca de manifestações de afeto ainda é pequena entre os brasileiros — embora 62% dos entrevistados no Brasil considerem o carinho muito importante, a parcela que afirma nunca ter recebido um gesto de carinho é quase tão numerosa quanto a dos que receberam muito: 28% contra 30%.

A pesquisa, encomendada pela Johnson & Johnson, tem por objetivo demonstrar como o carinho pode motivar as pessoas no dia a dia. O potencial desse aspecto para uma vida feliz é reconhecido por 46% dos entrevistados no Rio Grande do Sul, que disseram acreditar que esse fator impacta positivamente no cotidiano. Em todo o Brasil, 44% deram a mesma resposta.

Para o professor José Roberto Leite, coordenador da Unidade de Medicina Comportamental do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a percepção de como o brasileiro lida com o carinho está alinhada com a proposta da Psicologia Positiva, que busca o florescimento de virtudes para proporcionar bem-estar, distanciando-se do tratamento psicológico focado em patologias:

— Esses números são importantes para a tomada de consciência sobre o papel do carinho na qualidade de vida.

Segundo Leite, é preciso que o indivíduo seja "treinado" a manifestar carinho ao longo da vida, e há técnicas para isso. O psicólogo Hudson de Carvalho, pesquisador na área de desenvolvimento humano na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), concorda que o indivíduo pode superar as dificuldades afetivas e desfrutar dos benefícios de uma "vida carinhosa". Entre os recursos para isso, ele cita a psicoterapia e as atividades de cunho social, como aulas de dança, teatro e interpretação.


Abraço grátis para combater a indiferença

Para a assessora de imprensa Mariana Pires, 24 anos, demonstrar carinho é tarefa natural. Ela aderiu ao movimento Free Hugs e organizou o primeiro Abraço Grátis de Porto Alegre, em 2009, e seguiu firme na missão de abraçar desconhecidos na rua. Morando no Rio de Janeiro desde maio, continua com a plaquinha em punho na praia de Ipanema vez ou outra.

— É uma forma de levar um pouco da carinho para um lugar comum da cidade. As pessoas não se tocam, não se olham, falta contato mais profundo — diz a jovem.

Entre os ouvidos na pesquisa, 77% declararam que há menos carinho no mundo hoje em dia. Um dos motivos seria o medo de expressar os sentimentos (13%). Medo também expresso na reação de quem é abordado por um "abraçador" de plantão.

— Tem gente que sai correndo, mas muitos ficam emocionados — conta Mariana.


Como mostrar os sentimentos? 

Para um terço dos entrevistados, as famílias de hoje são mais carinhosas do que as de antigamente. Filho de juiz federal, Marco Fagundes, 49 anos, conviveu com a rigidez no meio familiar durante a infância, principalmente após a separação dos pais.

Ele tinha cinco anos quando passou a morar com o pai e a madrasta e sofria maus-tratos. Na adolescência, estudou em colégio interno. O exercício da autoridade pela força continuou o acompanhando durante boa parte da vida adulta, já que seguiu carreira como policial civil.

Os homens têm mais dificuldade de mostrar seus sentimentos, segundo a pesquisa. Se 69% das brasileiras demonstram mais carinho, entre os homens os carinhosos são 54%. Por outro lado, eles são mais carentes do que elas: 30% contra 26%. No caso de Fagundes, a soma dos dois fatores tornou os relacionamentos complicados. Casou duas vezes, teve quatro filhos e se sentia incapaz de demonstrar afeto.

Foi quando, em 1995, resolveu estudar Psicologia e conheceu a biodança, técnica que mistura movimentos de dança com terapia de grupo para o desenvolvimento afetivo. Hoje afastado da polícia, atua como psicólogo e está se formando facilitador de biodança, disposto a ajudar outras pessoas a fazerem aflorar a afetividade.


Alguns benefícios do carinho:

- Redução dos níveis de cortisol, hormônio associado ao estresse, e do ritmo dos batimentos cardíacos, mesmo em situações de grande tensão.

- Aumento dos níveis de ocitocina, hormônio relacionado ao bem-estar, à harmonia e ao apego, diminuindo respostas de ansiedade, medo e timidez.

- Crianças que recebem carinho constante dos pais apresentam um sistema imunológico mais competente e, assim, mais resistência contra doenças de modo geral.

- Temperamento mais estável, menor envolvimento com álcool, drogas e criminalidade.

- Capacidade de estabelecer vínculos familiares, românticos e sociais que promovem a expansão e o crescimento pessoal.




Fonte: Caderno Bem-Estar de ZH. Hudson de Carvalho, psicólogo e pesquisador em desenvolvimento humano na PUCRS

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